E eles se olhavam com um deslumbramento incrível. Parecendo criança olhando a vitrine de uma loja de brinquedos. “Parecendo” é eufemismo. Eram mesmo duas crianças com um presente de natal. E fora de época ainda, uma vez que guardava uma natureza inesperada no presente. A regressão infantil dos apaixonados não assustava.
A regressão permanente dos que nunca vão crescer já havia se instaurado ha muito tempo naqueles dois. Já era incorrigível.
Os olhos eram reflexos dos dentes. Sempre expostos devido a um sorriso contínuo. Isso, é claro, quando não estavam presos nos longos beijos que embasbacavam velhinhas beatas à caminho da igrja. Como se elas, muito melhor que eles não soubessem do que se tratava. Seria muito triste se não soubessem. Chegar àquela idade sem viver isso alguma(s) vez(es) na vida era vegetar, não viver.
Andavam de mãos, braços e pernas entrelaçados. Descendo as ruas com a silhueta de um monstro de ficção científica. Mas ninguém tinha medo, porque era notável que eles andavam em uma outra dimensão e mal se davam conta nem mesmo dos olhos curiosos e reprovadores. Eles não estavam nem aí mesmo. E nem por aqui, agora. Ninguém sabe onde foram, ou se eram de verdade. Sumiram. Porque morrer, não morreram. Aquilo mesmo já era pular do precipício. De mãos dadas inclusive, e é claro também.
Talvez tenham se perdido em uma carta, numa lua, num filme, num sonho...
Ou só fugido para um motel pelo caminho.
3 comentários:
Quando eu era crinça brincva na rua, soltava pipa, tinha carrinho de rolimã, tinha video game, tinha carrinho, tinha bonequinho e achava que era feliz.
Hoje, sou "criança", tenho vc e tenho certeza que sou feliz.
Isabella, Fantástico texto...
"Talvez tenham se perdido em uma carta, numa lua, num filme, num sonho..." que pena que eles parecem ter se perdido...
Léo, eles podem ter se perdido do e no mundo, mas nunca vão SE perder, um do outro não... Mas de fato poderia ser uma pena, o mundo seria melhor se as pessoas fossem mais "crianças" não é verdade?
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