quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Joyce Vincent

Sumiu

Simplesmente, partiu.

Se demitiu, da vida que era boa.


E então

Deixou a solidão

Cantou uma canção, e se deixou levar.


Descobriram novas estrelas,

Novas redes, novos caminhos,

Mas a notícia já era velha.

Entre a poeira...

Joice se foi.


Só desaparece o que nunca foi feito.

Mesmo sem história, nem memória

Continua acesa, como a luz da TV.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Cachaça

Chega, hoje eu vou me embora
Não me venha agora
Tentar pedir perdão

Eu sei, que não sou bom partido
Mas nunca foi merecido
Seu rancor, sua ingratidão

Hoje, eu quero uma cachaça
Não me peça mais nada
Vou ficar com a minha dor

E a lua, vermelha
Vem tentar consolar
Este peito sem cor

***

Após algumas felizes coincidências ganhei uma linda versão para este samba pela Ana.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Literal

Tenho uma paixão.
Nada secreta.
Gosto de ler.
Muito.

Mas o que não fica tão evidente nas minhas andanças é este apego ao que leio. A apreciação de cada momento deste amigo que faço questão de carregar para todos os lados para aproveitar cada minuto de microtédio que possa ter.
Estranhamente, não tenho nenhum apego ao livro em si.
Pra mim livro não é fim em si mesmo.
É meio.
Inclusive de transporte. Tele transporte. Me leva de encontro à vários sentimentos.
Meus, dos personagens, do autor. Deste estranho que se torna irmão.

Por isso adoro bobibliotecas. Todos os livros são meus. E de todos.

Eu me entrego a cada livro. Rio, choro, emudeço, cresço e aprendo com cada sensação. Sofro com a curiosidade e agonizo com a morte de cada livro que chega ao fim.
Porque é assim que sinto o fim de cada livro. Embora seja delicioso reler alguns trechos, não tem o mesmo sabor do conhecimento de cada linha. E meu sentimento de urgência me impede de reler os livros que li, tendo tantos ao meu dispor.
Não creio que meu amor seja efêmero. Mas minhas paixões agregam o caráter do sentimento, são. Efêmeras.
Não se acabam, mas trocam rapidamente de objeto.
Por fim, fica claro. Não amo os livros.
Amo, literalmente, a inspiração.

domingo, 7 de agosto de 2011

Pedaços

Quero de volta tudo que deixei voar.

Meus irmãos.
Todos muito longe dos meus olhos (mesmo que nunca do meu coração).

Quero de volta minha consciência, minha sinceridade, meu reflexo, minha maternidade, minha fraternidade e minha poesia.

Quero os pedaços que me completam e me fazem quem eu sou.
Sei que no caminho deixamos muitos para trás. Mas algumas pessoas, por sua singularidade, não deviam ir nunca. Pessoas que são especiais não pelo que são, mas pelos sentimentos que despertam em mim.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Sinto muito

Sinto muito.
Ultimamente tenho sentido mesmo, muita saudade.
Saudade é palavra que inventaram para explicar o aperto que a lembrança dá no coração.
Sinto falta do pedaço que foi embora e do sorriso largo e amarelo que levou com ela.
Sinto que nunca vou deixar de sentir.
E nem todas as despedidas foram capazes de apagar a dor do não ter.
“O que dói não é o adeus, é a certeza do nunca mais”.
A dor da ausência é grande, pois se multiplica a cada momento da falta.
“O tempo é longo pra que fica”.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Domínio

Muito tempo refém do sono.
Mas a insônia também é angustiante.
Toda falta de controle é angustiante.

Não falo sua língua.
Por isso olho para mim.
Olho. E penso. E falo. E tento.
Tento saber um pouco mais de mim.
Já que não sei muito sobre o resto.

Ontem era noite. Eu estava errada.
E hoje, nada mudou. Eu continuo errada.
E você sabe que não há nada mais libertador que admitir que está completamente enganado.

Só assim o dia amanhece.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Lágrimas

Hoje eu tive vontade de chorar.
Ontem, eu chorei sem querer.
E mesmo tentando engolir o nó, ele está ficando cada vez mais recorrente.
Tecendo um fio. E dessa vez, mudar a cor dos cabelos não vai resolver...

Algumas pessoas simplesmente não conseguem entender que não tem tudo sob controle.
E assim, atribuímos às mudanças a capacidade de nos tornar mais felizes. É fácil culpar a rotina pelo marasmo. Mas não é bem assim.

É ruim ter que mudar de caminho. Mas difícil mesmo é não saber que caminho tomar.

Mas talvez, se eu permitir que as lágrimas desçam, elas escoem a dor.
E quando eu deixar de chorar, vai ser de verdade.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Ponto de vista

De onde estou vejo um passado sorrindo no reflexo das lágrimas que me alcançam.
Nada foi tão frio que pudesse ser tão melhor.
Mas não me contento com o que vem a leves penas, pois eu gosto mesmo é de correr.

De onde estou vejo uma paisagem ambígua, de casas empilhadas.
Umas ordenadas, outras não.
Mas todas com o mesmo medo do que está lá fora, pois o que agente teme é o outro

De onde estou vejo o movimento respirando a fumaça cinza que nos sustenta.
Os olhos ardem, mas continuam olhando.
Mas sinto o vento que levanta o cabelo e a poeira, pois o que o vento quer é levar.

De onde estou vejo um sonho plural de ter mais conexões off que on.
De ser mais verão que andorinha.
Mas a gente quer deixar de ser metade, pois o que a gente quer mesmo é ser por inteiro.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Minha avó

Minha avó é uma das pessoas mais incríveis que conheço.

Não, ela não descobriu cura para nenhuma doença. Ela não desenvolveu nenhum software avançado. Ela não viajou para o espaço e na verdade, ela nem mesmo saiu deste país.

Mas posso dizer que em sua infinita simplicidade ela é uma pessoa incrível. Minha avó sempre foi a frente do seu tempo. Por mais antiquada e gasta que seja esta expressão. Ela tem o que é necessário para ser moderna: a disponibilidade para o novo. Sempre me intrigou como ela reage melhor a ideas mais avançadas. Muito melhor que a minha mãe por exemplo.

E mesmo sendo assim, moderninha, como todas as avós, a minha é clássica. Religiosa ao extremo. Roda o terço várias e várias vezes, tecendo orações à família: a que gerou, a que adotou e a algumas que nem conhece. Com o passar do tempo, por vezes lhe faltam as palavras. A memória não resiste tanto quanto o coração. Mas tenho certeza de que suas preces sempre são ouvidas. Não tem como não gostar dela.

Minha avó sempre foi avó de todo mundo, inclusive de gente mais velha que ela. Muitos nunca souberam o seu nome. Até minha mãe e meus tios acabaram chamando ela de vó. Na verdade, acho que seu nome acabou se tornando “vó” mesmo, já que este foi seu rótulo mais usado. E ela merece cada sentimento contido na imensidão deste título de duas ou três letras.

Lembro quando ela me defendia das chineladas da minha mãe. Lembro de como ela me levava como bagagem extra para todos os lugares. Lembro de como ela me dava café toda vez que eu lavava o cabelo. Lembro dos conselhos, dos mimos e dos carinhos. Lembro de muita coisa. Felizmente, há muito para lembrar.

Minha avó sempre foi muito doce e teimosa. E como é teimosa! Sempre teimou muito com a vida, mesmo ela nunca tendo dado muita colher de chá para a minha velha. Ela lutou muito. A saúde sempre lhe faltou, mas foi compensada com coragem e com uma força impossível de se conter naquele magro corpo. E agora, vendo a vida a abandonando, pouco a pouco, é difícil pensar que um dia ela não estará mais aqui. E que isso pode ser breve. Mais difícil ainda é pensar o quanto é egoísta desejar que ela fique mais tempo, que ela lute ainda mais...

Alguns tem a sorte de ter 4 avós. Eu tive a sorte de ter essa. Foi a única que conheci, mas posso dizer que não precisava de outra. E por tudo isso, meu amigo, eu posso dizer que a minha avó é uma das pessoas mais incríveis que conheço.
A minha única avó.
A avó de todo mundo.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Identidade

Minha poesia é simples. Até mesmo pobre, mas é absolutamente sincera.
Não gosto de escrever o que não penso.
Não que não escreva o que não vivi.
Mas sempre fui mais da crônica que do conto.

Eu falo demais. E detesto quando escrevo de menos.

As letras são as mesmas, mas as emoções são diversas.
As palavras se juntam para preservar sentimentos que se perderão em segundos.
Sou tão instável quanto minhas conjugações e por isso é preciso preservá-las.

Vai que um dia eu esqueço quem sou.

domingo, 2 de janeiro de 2011

Novo

E então, espero o ano novo toda em branco.
Não por fora, mas sim por dentro.
Limpa e aberta ao que virá.

Quer seja destino ou não, desenho para mim padrões brilhantes para meu futuro.
O poder de meus desejos reside na crença que deposito neles, e acredite.
Não é algo que se possa desacreditar.

Fiz dos meus pensamentos uma teia e do meu coração uma porta.
Só permito que fique o que é filtrado, e assim espero.
Espero que o ano novo seja tão divertido como um brinquedo novo, que não se deteriore com o tempo e mantenha o encatamento até o fim.

Para 2011 o que espero não é diferente do que em 2010, apenas um pouco a mais.
Vamos lá. Ladeira acima.
Porque o caminho não espera e eu gosto mesmo é de andar.