domingo, 29 de agosto de 2010

Pintura

Para quem tem a sorte(?) de sonhar colorido.
O mundo acorda branco.
Tela limpa, disponível. Constituída de possibilidades e renúncias.
Regada a ansiedade e a angústia que permeiam uma folha vazia.

Sem fecho os olhos, carnaval.
Se abro, quaresma.

Há dias em que carrego no laranja,
Saudável, vitaminada, energética e jovem.
Outros, peso no lilás e continuo fantasia e sonho.
Há ainda, os que me escondo no azul.
Solidão high tech em código binário.
Mais quase sempre amanheço berrante (Brilhando mais forte)
Gritando em vermelho, ainda que infra,invisível.
Quente, atrevida, ideológica, instável.

Por dentro, paixão.
Por fora, cinzas.

Mas é fato que minha palheta só fica completa quando suas cores completam minhas curvas.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Luzia

Já era manhã quando ela saiu de lá.
Os olhos pintados de alegrias, e as mãos cheias.
Sabe Deus de quê, mas é sempre bastante para quem tem as mãos vazias.

Não é nada simples ser sozinha.
Principalmente quando não é só.
A vida não é muito fácil pra quem tem uma penca de filhos e meia dúzia de dinheiros.

Se o sorriso valesse centavo, estaria rica. (pena que não vale)
Tinha sonhos. Alguns carregava na bolsa e vinha contando pelo caminho.
Ônibus lotado num é coisa fácil de agüentar não.
Principalmente para quem carrega o mundo nas costas e mais uma boca no colo.

Mas se fosse para desistir já teria deixado.
O tempo já calejou as esperanças.
Todos elas gastas de tanto pensar.

Mas ela pensa. Sonha. E espera...
E é exatamente por isso que o país inteiro ainda se move. Anda.
Sabe Deus para onde.

Ao menos ele sabe.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

A atriz

Foi outro dia (era dia mesmo) que eu decidi, que o pão não bastava.
Que aquele outro espelho que andava sozinho, já não me encarava.
Eu me fazia multidão, pra deixar de ser só.
Eu me perdia em meio milhão pra tentar ser meio inteira.

E é cada coisa, que a vida dá.
E é cada sonho que a vida toma.
Que o amor resolveu não sobrar.

Faz algum tempo (faz tempo mesmo) que eu pensei que o sorriso bastava.
Que o resto era salto, cetim, nós e pulsos. Queda livre, asfalto e calçada.
Eu era sim. E o resto não.
Eu teimava: sim. E a vida, não
Por fim (ah! Era mesmo o fim) restou a multidão...

E eu era só. E era só um papel de solidão...