quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Ele e Ela

Ele acordou e resolveu não sair da cama.
Ela acordou e sabia que tinha muito a fazer.
Ele, logo cedo, recebeu um telefonema e tinha um compromisso.
Ela, logo cedo, fez um telefonema e confirmou seu compromisso.
Ele se aprontou correndo para chegar na hora.
Ela, basicamente, não tinha hora para chegar.
Ele então entrou no ônibus e foi ter com seus amigos.
Ele então entrou no ônibus, desceu, e também foi ter com seus amigos.
Ele jogou sinuca, comeu churrasco e tomou cerveja.
Ela conversou sobre vampiros e purpurina, um grande P.E. no saco
Ele estava gostando de onde ele estava.
Ela finalmente saiu de onde ela estava.
Ele pegou um copo de cerveja e olhou para a porta.
Ela então passou pela porta.
Ele não notou ela.
Ela não notou ele.
Ele cumprimentou uma amiga.
Ela foi apresentada a ele por uma amiga
Ele a conheceu.
Ela o conheceu.
Ele foi para um lado.
Ela foi para outro.
Ele andou com um amigo para onde ela estava.
Ela continuou a conversar com todos.
Ele viu um amigo beijando uma amiga dela e riu disso.
Ela viu uma amiga beijando um amigo dele e riu disso.
Ele conversou com ela sobre algumas coisas.
Ela concordou com ele sobre outras coisas.
Ele, de repente, ficou sozinho com ela.
Ela não se incomodou de estar sozinho com ele.
Ele falou algumas palavras sem sentido.
Ela fingiu que entendeu ou que não entendeu e ficou por isso mesmo.
Ele a beijou.
Ela retribuiu o beijo.

Eles começaram a rir junto de algumas coisas.
Eles dançaram forró.
Eles se abraçam.

Eles trocaram sms, muitas sms e alguns telefonemas.
Eles viram filmes no cinema.
Eles tomaram sorvetes.
Eles conversaram pelo MSN.
Eles começaram a namorar.
Eles se tornaram repetitivos.... Te adoro, te adoro, te adoro.
Eles ainda trocam muitas sms.
Eles prefeririam se gostar e gostaram muito um do outro.
Eles descobriram a webcan e passaram a se ver mais vezes.
Eles iam muito ao cinema.
Eles estavam de férias.
Eles se viram a primeira vez fora do fim de semana. Terça-feira.
Eles decidiram que gostar era pouco.
Eles se amam
Eles trabalham juntos
Eles descobriram que discar é mais legal que teclar.
Eles ligam um para o outro todo dia, mesmo se vendo todo dia.
Eles adoram se beijar.
Eles passam por maus bocados juntos.
Eles recebem boas noticias juntos.
Eles choram juntos.
Eles sorriem MUITO juntos.
Eles são felizes juntos.
Eles vão ficar juntos... pra sempre.
Eles pensam em como vai ser a cozinha.
Eles pensam em como vai ser a sala.
Eles pensam em quantas polegadas vai ter a TV.
Eles continuam discutindo sobre o filho e o cachorro.


Ele ama muito ela. Ela idem...
Ele e ela passaram a ser ELES.
E viram que o plural se tornou indispensável.


Renato Pedrosa Neto

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Escolhas

Por mais triste que pareça: a solidão.
Por mais azul que se creia: a alegria.
Por mais traiçoeiro que se insinue: o desejo.
Por mais ameaçador que seja: o amor.

Sempre por mais, nunca por menos.
Ser é sempre mais , ainda que a curva seja ladeira abaixo.

domingo, 20 de dezembro de 2009

A rosa

Ele entrou velozmente no vagão nos últimos segundos. Uma mulher achou que ele era estranhamente atraente, ainda que esbaforido. Uma menina o achou divertido, com aquela cara engraçada. Uma senhora achou que ele era imprudente. E um homem, achou que ele era um idiota.

Todos estavam corretos.

Andou mais alguns metros dentro do vagão e olhou pela janela se deliciando com a velocidade do veículo. Aquela velocidade segura e calmante ainda que o balançasse um pouco. Pra ele, aquela balançar era mais como uma rede ou uma cadeira de balanço. Acalmava.

O último assalto tinha lhe rendido um ipod novo, um Big Mac e uma rosa. Sim, uma rosa. Ele sempre reservava alguns trocados para comprar uma flor. Mais especificamente uma rosa. Sim, ele sabia que uma rosa era clichê o suficiente. Mais não havia necessidade de criatividade para isto. A esperteza ele guardava para aquelas outras situações. E uma rosa é assim um Ray Ban, nunca sai de moda. Sim, ele tinha uma Ray Ban. E sim ele comprou uma rosa no mesmo dia.

O Big Mac já estava em digestão. Foi a primeira aquisição.
O ipod no bolso, apenas no bolso. Aquelas músicas barulhentas que ele havia encontrado no aparelho não lhe agradavam nenhum pouco. Ele preferia musica clássica. Sim, música clássica e funk. Os extremos nunca haviam o incomodado.

Sentou em um banco, quase no fim do vagão em que entrou. A rosa era sua contrapartida. Fazer melhor o dia de alguém com aquela rosa haveria de equilibrar as coisas de alguma forma. A rosa era sagrada. Se faltasse, ele interava. A rosa era sagrada.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

O lugar certo

Não há mente capaz de completar um quebra-cabeças com as peças erradas.

É claro que haverão discordâncias:

Uns vão achar que não são capazes de resolver.
(por sua própria incompetência).

Outros vão ignorar e dar o trabalho por completo,
ainda que falte alguma peças.
(bem mais que as que de fato estão erradas)

Outros vão pensar em cortar a peça e/ou enfiá-la a força
(afinal de contas, isso é um quebra-cabeça e isso é uma peça,
obrigatoriamente eles devem se completar, é lógico)

Outros ainda, vão procurar outra coisa para fazer.
(deixando tudo como está)

Mas tem sempre Um que tem o olhar mais atento,
E percebe que as peças estão fora do lugar e que estranhamente
(as olhos de Uns e Outros)
Sai do lugar e vai á procura do lugar certo.

E aí a gente entende por que Um é assim tão singular...

Presente

O presente que a gente não espera é sempre o mais bonito.
Talvez pelo teor da surpresa
Ou pelo caráter milagroso da realização.

Tem presente que vem fora da data.
Que arranca cara de natal.
E presente de natal que serve pra vida.

Uma vida toda de presente pra ficar a vida toda presente.