quarta-feira, 22 de julho de 2009

Passagem

Com mais dois breves pensamentos ele teria desistido. Mas fazer o quê? Nada era tão simples como comer o doce de banana feito pela mãe. Teria que enfrentar aquilo mais cedo ou mais tarde.

A mala estava pronta. Bem vazia na verdade já que teria que deixar para traz a maioria das coisas. Algumas só veria de novo em alguns pensamentos deturpados, quando alguém tentasse lavar suas memórias com um shampoo inapropriado, qualquer um que não fosse para memórias secas.

A passagem logo a frente esperava com a impaciência típica dos portões. Tudo é passado de hora, tudo é da hora passada, tudo é só passagem. Portas são frias. Disso ele não se esqueceria. Mas ignorou por dois breves momentos.

Se despediu dos entes queridos. A despedida foi longa, eram muitos, de lugares diferentes do planeta e até de fora dele. Abraçou com grande pesar seu melhor amigo, levantando-o do chão. Chorou por dois breves segundos. Ensopando o pelo providencial do companheiro.

Respirou fundo, por duas breves eternidades tentando se concentrar. E sabia muito bem que só havia conseguido chegar ao último suspiro, porque não precisava pensar no que estava fazendo. Fazia parte das coisas que ele já sabia de co: respirar. E isso ele fazia bem. Quando a asma deixava é claro. Ergueu o pé direito (superstições dá avó que ele preferia não contrariar) e com um passo maior que as curtas pernas, entrou na adolescência.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Um pouco meio muito (36)

Era assim uma menina estranha sabe? Um dia noite, outra noite dia. Ninguém sabia muito bem o que esperar dela. Mas ela esperava muito.
Era de extremos. Perfeitamente polarizada.
Ria às gargalhadas, assim, à uns 80 decibéis pelo menos.
Ou chorava baixinho, assim, uns 80 minutos pelo menos.

Não fazia muito sentido.
Mas sentia demais...
Bem da verdade, dia de mais, de menos, de qualquer jeito ou de jeito nenhum.
Mas sempre muito.
Por natureza, pecava pelo excesso.
Talvez esse fosse o menor de seus pecados.
Talvez o único.
Mas “talvez” é meio termo.
E o que é morno, sem a menor dúvida, ela deixava para trás.