quarta-feira, 5 de agosto de 2009

La pluie

Assim que amanheceu aquele dia, o pior aconteceu.
Não que fosse muito simples viver de brisa no estômago.
Mas a chuva, que não mata a sede, derrete a moradia.
Ofende os olhos, fere o orgulho, humilha o âmago.

As gotas molhavam o rosto cansado, sofrido, exausto.
A única água à molhar as rugas, sem lágrimas nem banho.
Ação escorrendo pelos dedos, um grito pelo canto da boca.
Êxodo de piolhos mal nutridos “comendo poeira” de sonho.

O vento aos urros, levava embora o resto do teto frágil.
Ao menos tapava as estrelas num aconchego grosseiro e vil.
Arrastando pela rua a última foto, que guardava lembranças.

Privado de tudo, até mesmo do desespero que às vezes alivia.
Andou devagar, buscando, no silêncio de uma prece vazia,
Em outro papelão, o que nunca chegou a ser uma esperança.

1 comentários:

Unknown disse...

Lindos versos

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